Artista 'roraimada' ilustra obra regional sobre Canaimé
Mítico e sublime na crença das tribos Macuxi
e Wapixana, o Canaimé comumente é retratado como uma figura horrenda e maléfica contra os povos nativos. Nesta concepção, a artista Livea Carmo, de 23 anos, desenvolveu
seu próprio 'Rabudo', apelido também comum ao Canaimé. Seu
grafismo complementa a obra literária inédita do jornalista Michel Sales, que
traz ainda outros personagens lendários, além de simbologias diversas da cultura
indígena roraimense.
“Adoro a cultura dos povos
originários, bem como a diversificação de sua arte. Roraima é uma região onde
habitam várias etnias indígenas, e nessa convivência, todos se misturam
rebuscando conhecimentos. Assim, foi fácil aceitar o convite do Michel,
abraçando com entusiasmo e carinho esta oportunidade. Sua composição é
bastante envolvente, e dela eu pude extrair os detalhes mais sensíveis para conciliar
traços leves e assegurar beleza ao enredo, tendo ainda como referência especial
as linhas do memorável Jaider Esbell para retratar também os buritizais,
Cruviana, Tepequém, Monte Roraima e os bichos aos redores”, explicou.
Para a concepção do Canaimé, Livea enfatizou.
“Sendo o Canaimé responsável por acontecimentos danosos, percebi no texto
uma maneira específica de identificá-lo, quando num trecho revela seu poder e presença
como entidade traiçoeira - “Um susto identifica Canaimé e ele está
aqui, desabando o medo, a tristeza, a mudança, desfigurando o azul e as formas,
agravando o caos, remetendo ao fim” - dessa narrativa, ilustrei uma sombra
com muitos olhos medonhos marcando a presença de Canaimé em toda Taumanan”,
disse.
Além de Canaimé, a obra literária de Michel
Sales também identifica outros personagens importantes da simbologia indígena
roraimense, reforça Livea. “O livro deve ser lançado em breve, e toda a
arte desenvolvida nele está especialmente em preto e branco numa forma
de aproximar o leitor à narrativa, remetendo a chance de colorir as concepções,
permitindo sua integração na construção literária”, concluiu.
A ILUSTRADORA
Natural de Rondônia (RO), Livea adotou o
universo roraimense como berço cultural ainda na infância, onde aprendeu a
desenvolver seu talento com desenhos ao lado de seu pai, Marcelo Dionísio,
também artista plástico. Desde 2019, Livea vive no Rio Grande do Sul, onde está
concluindo o curso de Licenciatura em Artes Visuais pela UFPEL (Universidade
Federal de Pelotas).
Segundo a artista, a paixão pelos desenhos é
um mix de total emoção. “Além do meu pai como autêntico influenciador, as
animações cinematográficas também me encantam bastante e instigam o meu foco
profissional. Na faculdade, estudamos diferentes estímulos sobre a estruturação
dos desenhos, desde Construções Geométricas, Perspectiva, Sombras, Histórias
em Quadrinhos e tudo isso eu aprecio demasiadamente”, concluiu.
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