Um épico do metal brasileiro inspirado na tragédia do príncipe da Dinamarca
Por Michel Sales
O discaralhaço "William Shakespeare's - Hamlet', lançado pela Die Hard Records em 2001, representou um marco inovador para o heavy metal brasileiro. Na época, esse projeto ambicioso reuniu algumas das maiores bandas do gênero musicando a história trágica do príncipe dinamarquês.
Desenrolando as letras dessa saga, o poeta Adriano Villa escreveu 27 contextos baseados na peça de Shakespeare, sendo 14 delas ajustadas as composições, também traduzidas para o inglês arcaico e visualmente detalhadas pelo artista Rodrigo Cruz.
Dentre as bandas participantes estiveram o Delpht, Santarem, Tuatha de Danann, Eterna, Sagga, Symbols, Hammer of the Gods, NervoChaos, Torture Squad, VersOver, Fates Prophecy, Hangar, Krusader e Imago Mortis, todas experientes e com material já lançado.
A Die Hard também trouxe músicos de renome, como o tecladista Fábio Laguna, os vocalistas Mário Pastore e André Matos (Shaman, Virgo), além do maestro José Luiz Ribalta, que assina a faixa final, "To Be...". Nessa música especial, cada vocalista interpreta uma linha, exceto André Matos, que assume uma estrofe completa e lidera um dos refrãos.
Mixado na Alemanha por Sasha Paeth e Miro (Angra, Rhapsody e Luca Turilli), o resultado da bolachinha explorou uma diversidade de estilos dentro do metal, mantendo a coesão com a proposta shakespeariana.
O CD inicia com "From Hades to Earth", do Delpht, um heavy metal intenso e melódico que destaca a versatilidade vocal de Ronaldo Simolla. Santarem segue com "Sweet Flavour of Justification", uma peça influenciada pelo rock psicodélico e progressivo dos anos 60 e 70. Faixas como "Visions of the Beyond" (Hammer of the Gods) e "The King's Return" (Krusader) exibem um metal acessível e contagiante, enquanto o NervoChaos entrega brutalidade em "The Truth Appears", com seu death metal visceral.
A sequência também conta com destaques como "A Letter to Ophelia", do VersOver, que mescla heavy metal melódico e rock progressivo, enriquecido com coros e arranjos variados. Imago Mortis cria uma atmosfera sombria em "Prayers of the Wind", e o Symbols, com "Stormy Nights", entrega um dos momentos mais fortes do álbum, graças ao vocal preciso de Edu Falaschi e aos riffs marcantes.
O CD trouxe ainda variações de estilo: Torture Squad arregaça em "Mandate for Freedom", um thrash/death metal poderoso que é um dos pontos altos do álbum, enquanto o Eterna representa o white metal em "Goodbye my Dear Ophelia", com um peso que transcende qualquer preconceito de gênero. O Tuatha de Danann, por sua vez, destacou influências celtas e medievais que complementam perfeitamente a proposta.
O álbum fecha com "To Be...", uma faixa orquestrada com todos os vocalistas participantes, encerrando com um grand finale, encerrando o projeto de forma imponente. No mais, William Shakespeare's Hamlet provou seu valor cultural e artístico do heavy metal nacional, marcando uma página importante na história do gênero no Brasil.
E já passou da hora de organizar uma parte dois, repetindo a dedicação descomunal de Alexandre Callari (Pipoca & Nanquim).
Nota: 8,5
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